26 de fevereiro de 2013

Os Planos [6 dias de Tempo]

[nesta semana que antecede minha 18ª data natalícia, comprometi-me a escrever todos os dias, desta Segunda, até o Sábado fatídico, um texto sobre o Tempo]
    

      
Três pontos quaisquer que marquei
No ar, no vazio de mim;
Três retas marcadas, conectadas,
Flutuando, balançando.
      
Um plano.
Uma pose não colinear.
Um sucesso desenhado, explanado,
Espalhado, espelhado,
Colorido, enfeitado, emplumado,
Multiplicado, alinhado,
Preparado e posicionado
Na linha do tempo deste mundo
Analítico e Cartesiano.
      
Uma pena ninguém ter me contado que,
Planos, por planos, não valem de nada,
Na vida corrida de um mundo em 3D.
      
Pisei-os.
Ultrapassei-os.
      
Planos eram só o chão, afinal;
Não havia sólido ali.

25 de fevereiro de 2013

Memória [6 dias de Tempo]



[nesta semana que antecede minha 18ª data natalícia, comprometi-me a escrever, desta Segunda, até o Sábado fatídico, um texto sobre o Tempo]


     Foi numa quinta-feira, acho, mas bem pode ter sido numa quarta, ou numa segunda. O tempo perde o sentido quando estamos tão mais preocupados com o que há de vir a se do que com o que tem sido. Um grande dia chega, e há já tanta preocupação com o próximo, que as coisas esvaziam-se de sua real importância.
     
     Em algum dia destas últimas semanas, parei por um segundo e notei alguém que por mim passava. Ergui os olhos dos quadrinhos que lia, e observei seus passos lentos até seu carro. Alto, costas encurvadas. Mal erguia os olhos do chão. Movimentou a cabeça pra despedir-se de mim, com um sorriso simples.
     
     Há algo de muito sombrio sobre a Memória. Ela nos prende ao passado, mas transforma a saudade e a nostalgia em pesos insustentáveis. Passamos a viver em função de preservar a lembrança do que já passou. O Tempo congela dentro de nós. Ao nosso redor, ele continua correndo.
     
     O brilho de um substantivo é dar substância àquilo que mal existiria. Tenho um nome que é só meu. Ele também, mas não de todo. Assumiu o nome daquilo que se tornou mais importante, superior a si mesmo. Penso em seu nome, mas como o nome de alguém que esvaziou-se de quem é. Manteve a gentileza e a disposição. Vive a vida que o trabalho lhe deu.
     
     Ninguém sabe bem que ele é. Só onde ele está.
     
     Responsabilizou-se por todos nós. Fez daquilo o máximo que tem. Não sei se está feliz. Talvez tenha só aceitado. Vive num passado que se tornou presente, e futuro. Toda sua memória se repete. Quase nada muda de novo. A mesma rotina. Os mesmos passos. As mesmas funções. A mesma maleta, a mesma postura recurvada, o mesmo molho de chaves no bolso. Ontem, hoje e amanhã.
     
     Meu minuto de observação acabou quando entrou em seu carro e foi embora. Foi embora, sozinho. Já era minha hora de ir também, mas não quis. Estava presa àquele lugar. Ele também. Eu, por uns poucos tempos só; ele, pra sempre, talvez. Morreria indo e vindo, quem poderia dizer que não.
     
     Sua memória, e a memória de si, estariam sempre encrustadas nas paredes daquela sala. Para além de enquanto estivesse ali. Ele era o lugar. O lugar o era.
     
     Aquele Passado se encerra quando ele sair dali.